sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Vire



Do outro lado do vidro
a chuva molha.
Do outro lado da rua,
ele me olha.

Do outro lado do muro
o cão é bravo.
Do outro lado da página,
um desagravo.

Do outro lado do mundo
é noite agora.
Do outro lado da lua,
São Jorge mora.

Do outro lado da moeda
está o medo.
Do outro lado da porta,
um segredo.

Do outro lado da foto,
a dedicatória.
Do outro lado da vida
é outra história.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Pipa


Já fez pipa?
Já fez rabiola de pipa?
Eu queria fazer um pipa agora. Um pipa todo colorido, bem bonito.
Sabe quando você vai amarrando as fitinhas pra montar a rabiola do pipa? Eu ia amarrar outras coisas no lugar das tirinhas de papel ou plástico. Tipo... Meu medo de ficar sozinha, minhas inseguranças, minhas preocupações, alguma brigas que devem ser esquecidas, dor de dente, dor de ouvido, dor de saudade, gente chata, ex-namorados, falsos amigos, falta de sorte, meus cartões de crédito, desentendimentos, desencontros, desacertos entre mãe e filha, gente que maltrata bicho, culpa de qualquer tipo...
A rabiola do meu pipa vai ficar imensa e pesada, então vou esperar um dia de vento bem forte e vou soltá-lo.
Ele vai voar alto, muito alto. E quando estiver bem longe, depois das nuvens, eu arrebento a linha!
Que ele caia bem longe daqui, e de preferência que fique preso na antena da casa do caralho!

Esperava um final poético?
Que pena...
Sinto muito, mas nem tudo é poesia nessa vida!

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Vide Versos

      Os olhos enganam,
   trapaceiam.
         Não conte com o que se vê
somente.
Abra a mente.
Estenda a mão e toque,
ouça o coração
e a intuição.
Encontre saídas novas,
opções múltiplas,
possibilidades várias.
O óbvio nem sempre é o certo,
e o certo também muda.
Não procure certezas eternas,
encontre soluções rápidas.
Quase tudo tem cura,
O que falta na vida é “vide-bula”.
Acredite no invisível,
duvide do inverso,
não viva submerso.
E em caso de dor na alma,
vide-versos.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Sem Tempo


Ando tão sem tempo,
tão sem espaço...
Esmagada pela agonia da pressa,
espremida pela falta de horizonte.
Viver aqui é como estar
num quarto sem janelas.
As luzes estão sempre acesas e
nunca se sabe se é dia ou noite.
Ar condicionado,
sem cheiro de flor ou maresia.
Plantas artificiais tão perfeitas!
Quase me enganam.
Realidade virtual,
informação vital,
vida brutal.
Não preciso ter acesso a tudo,
não faço questão de tanta rapidez,
nem gosto tanto assim de certas
facilidades da “vida moderna”.
Prefiro a simplicidade do
lápis, da lenha e da vela.
Aprendi a reconhecer a
segurança e o sabor que
só a maturidade dá.
Bom mesmo é casa com quintal,
jardim, bicho e... tempo.
Descansar a mente revolvendo a terra,
renovar a alma semeando a flor,
recriar a vida misturando amor.