terça-feira, 8 de setembro de 2009

O Mapa


Por que será que é tão difícil para um adulto lembrar o que ele fazia na infância/adolescência, antes de chamar a atenção de uma criança?
Eu sei de cor todo aquele discurso de "falo isso porque quero o seu bem", ou "eu sei o que é bom e o que é ruim...", ou ainda, "não quero que meu filho passe pelo que eu passei..." Até concordo que em certas horas, não tem como fugir disso. Ensinar, educar, apoiar, é sempre muito bem vindo, mas essa coisa de querer impor pontos de vista, oprimir vocação, empurrar fórmulas e frases feitas, certamente não funciona.
É bronca por causa da música alta, da bagunça no quarto, do palavrão...
É castigo por não fazer a lição de casa uma única vez, para curtir uma tarde com a turma...
É gritar para não ter que ouvir o outro lado da história, simplesmente porque o vizinho é uma pessoa séria, ocupada e sabe o que está dizendo.
Ah... Frustrada tentativa de esconder a vontade de fazer tudo isso, e saber que a idade já não permite. Que coisa feia...
"Aborrecência". Hoje essa fase é um aborrecimento? Mas já foi bem divertido, né?
Deve ser chato mesmo ver que o tempo passou e que agora você está do outro lado, principalmente porque esse lado já foi tachado de autoritário, careta, intolerante e antiquado, por você mesmo.
Relaxe!
Todo mundo já contou mentira, soltou bombinha, derramou suco na toalha da mesa, rasgou o joelho da calça nova, errou o alvo de uma pedra, chegou mais tarde do que podia ou falou o que não devia.
Não é crime tirar uma nota vermelha, quebrar a vidraça alheia, namorar escondido ou patinar no carpete. Releve!
É preciso saber equilibrar as coisas nessa vida, parar de agir como se tivesse sempre absoluta certeza de que seus pensamentos e atos são corretos, e que não há nada no seu passado que possa te desmentir.
Não obrigue seu filho a comer berinjela se você não come jiló. Curtam um sanduba com milk shake de vez em quando.
Não condene sua filha pelo namorado roqueiro, se você namorou um hipponga. Gosto e mau gosto são conceitos bem relativos, né?
Não deboche do cabelo raspado tipo Ronaldinho, se você já deixou o seu crescer tipo Rauzito. Dividam a coleção de boné.
Não implique com o CD do Marcelo D2, se você ainda tem o vinil dos Elvis (e nada de comparações, por favor!). Ouçam Tom Jobim juntos.
Isso é educar, e vale mais que mil palavras.
É necessário crescer junto, reviver, repensar, mostrar o caminho à frente sem querer apagar as próprias pegadas. Tente compreender hoje como já quis ser compreendido um dia. Não diga frases que ouviu de seus pais sem esperar dos seus filhos, respostas que você já deu.
Deixe livre, mas esteja por perto. Incentive a individualidade, mas incuta responsabilidade. Seja firme quando for preciso, mas seja confiável sempre. Não confunda sinceridade com insensibilidade. E, principalmente, tenha muita paciência. Para tudo. Para sempre.
É difícil, eu sei, mas confie. E se você chegou até aqui, ele (a) também chegará. Lembre-se apenas, que agora você tem um mapa, ele (a) não. E não é que mesmo assim, você ainda erra o caminho de vez em quando?

Um comentário:

Dea Carvalho disse...

Ahhh, dizer o quê depois disso tudo?
Você, sim, tem o mapa, amiga! Ótimo texto!